terça-feira, 14 de abril de 2009

Páscoas e Férias Felizes

A cor roxa, púrpura, violeta, é simplesmente junção do vermelho e azul.
É também a cor da Páscoa, para o Catolicismo, a cor litúrgica é o roxo, que significa luto e penitência.
Quando passava as férias da Páscoa na casa da minhas tias, haviam mais idas à igreja ,quase frequentes, e confesso que não era muito hábito lá de casa.
Nesta época da Páscoa as mulheres vestiam-se de preto para fazer o luto cristão.
Ver o Senhor dos Passos com um vestido roxo a carregar uma cruz enorme, para mim, criança, era assustador.
As vias-sacras, eram eternidades...
Aliás o meu convívio com os Santos,não era muito saudável.
Amedrontava-me, qualquer parte da igreja em que eu estivesse, eles continuavam a olhar-me nos olhos.






















Nunca cheguei a ter pesadelos, porque as estadias na casa das tias, superavam estes momentos e horas de verdadeiros sacrifícios.
Tínhamos sempre muito afecto, e, a aventura de subir ao cedro, ou tentar trepar a capela da NªSrª de Fátima, fazia-nos verdadeiros heróis em escalada
À saída destas cerimónias religiosas, claro vinham as pessoas perguntar às minhas tias, (que eram chamadas "meninas" Ester e Maria).
Quem é?
Filha de quem?
Que idade?
A classe que frequentava...curiosidades que as minhas tias satisfaziam com muito orgulho.
Até era normal aquelas curiosidades nos meios rurais, e no final era sempre bombardeada pelos beijos e puxadelas nas bochechas.
E, o burburinho continuava mesmo depois de virmos embora.

Depois destas cerimónias e rituais , o regresso a casa era sempre "lavada"com álcool por parte da minha tia Ester, não fosse ficar contaminada por algum micróbio....(este ritual não passou só comigo, também os meus irmãos foram desinfectados!)Tudo isto ficava esquecido, nem dava muita importância, hoje seio que era mais um dos exageros da minha tia Ester...

O cheirinho dos bolos e dos doces que vinham da cozinha, os miminhos, os sorrisos, a alegria transmitida pela tia Maria era o que realmente me maravilhava.

Havia forno a lenha, faziam amassadura de pão, aí eu tinha direito a receber os meus "brindeiros" (brindes:pães pequeninos) Os bolos eram maravilhosos,o de coco sempre foi o meu preferido.

Ajudar a fazer os torrões de açúcar, de chocolate e de baunilha!!!, e os rebuçados de caramelo que eram embrulhados em papel de seda branco, e guardados em caixas de latão.

Esta tarefa dos torrões e dos rebuçados eram só feitos na Páscoa, mas davam para todo o ano.

O importante é que estas tarefas partilhadas também por mim eram acompanhadas com as histórias, poemas , lengalengas e cantigas da minha tia Maria !

Já passaram uns 42 anos, e nunca mais tive Páscoas assim..., tão felizes!!!

Também passava Férias da Páscoa na casa da minha avó materna, felizes, claro que sim!, mas totalmente diferente. Era outra cultura, outra maneira de estar, sem religiosidades.
A minha avó , paulista, brasileira, para lembrar o seu País também cantava muito.
" Em cima daquele morro
tem um ninho de arribu
passa boi,passa boiada
no buraco do tatu
é do tatu
é do tatu....."

O samba ,todo o género de música brasileira era a nossa música de fundo.
Aqui pintava pedras, ovos de galinha e de pato às cores, e a avó Ventura ,contava histórias e cantava as cantigas do coelho da Páscoa!!!!!

"Coelhinho da Páscoa
que trazes para mim?
1 ovo
2 ovos
3 ovos
....assim ! "
Hoje, sei que ali não havia,nem mimos nem afectos, havia mais liberdade, por isso não houve sítio melhor para passar férias na adolescência....

Foram as Páscoas da minha infância.
Hoje continuo a recordá-las com muito carinho, e voltam a me fazer feliz.

A tristeza só aparece, a quem não tem memórias.
É por isso que eu quero ser sempre feliz!
Vou memorizando!!!!

Funchal

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