domingo, 28 de setembro de 2008

Todos nós temos uma Tia...Maria !



Quer se chame Maria, ou outro nome qualquer, fica-nos sempre na memória.
A minha, era a Tia Maria.
Na infância, esteve totalmente disponível para mim, até para aquelas brincadeiras maçadoras, na adolescência, compreendia, ajudava e até conseguia me tirar os castigos impostos pelos meus Pais.
Já não está entre nós, mas, é sempre lembrada com muito carinho,tanto por mim, como por todos os meus irmãos.
Todos temos recordações da boa comida,dos petiscos, do ovinho escaldado,dos bolinhos fritos, dos biscoitos!!! , e a gelatina de marmelo?!!! e aquele requeijão com folha de hortelão! Tudo delicioso.
Nunca mais saboreei aqueles paladares, eram únicos.
As histórias contadas à noite, tinham realidade, pela voz , era imitado os sons , a música... Eram as fábulas de La Fontaine, teatralizadas.
A do Beltrãozinho, do Rato da cidade e do rato do campo, da Raposa e das Uvas, e muitas, muitas mesmo, mas, todas elas com efeito de ensinar e alertar para os perigos da sociedade. A História de Portugal contada por dinastias, o que melhor me recordo é a do Sebastianismo, pelo fascínio que era contado o seu desaparecimento misterioso, na Batalha de Álcacer-Quibir, a sua sucessão para o Cardeal Dom Henrique.Os poemas declamados de Fernando Pessoa:
Está escuro,

Está muito escuro aqui.

Sinto-me inútil aqui dentro, fechado.

Mas é aqui que me sinto.

Na escuridão…

Na solidão…"

Os poemas de Miguel Torga:


Sei um ninho.

E o ninho tem um ovo.

E o ovo, redondinho,

Tem lá dentro um passarinho novo.

Mas escusam de me atentar:

Nem o tiro, nem o ensino.

Quero ser um bom menino

E guardar

Este segredo comigo.

E ter depois um amigo

Que faça o pino

E, outros, muitos, muitos que eu ainda sei de cor, este, que eu nem sei o autor, lembro-me sempre que faz trovoada ou chove muito.

Santa Bárbara se vestiu e se calçou, e ao caminho se deitou,
Jesus Cristo a encontrou.
Bárbara onde vais, eu nem vou nem deixo ir ,só ao céu quero subir, para espalhar esta trovoada que no céu anda armada.
Vai Bárbara e espalha por onde não haja pão nem vinho ,nem pintainho a piar , nem porquinhos a roncar nem cordeirinho a berrar, onde esteja uma serpente que tenha quanta filhos que não tenha nada para lhe dar se não água de turbal que é leite de maldição.
Mas, a minha tia Maria, tinha alma de poeta, escrevia poesia, cantava e encantava, foi quem me falou de Luís de Camões, dos Lusíadas da Epopeia , da Divina Comédia de Dante:
-Inferno, Purgatório e Paraíso, de Gil Vicente, e da história do Teatro. Era realmente encantadora, conseguia nos prender a atenção, para o que era realmente importante.
Cresci, e até hoje lembro-me com muito carinho da minha Tia Maria. Era linda! meiga, com voz suave,e um par de olhos castanhos côr de avelã e doce como o mel.
Muitas vezes dou por mim a dizer: - A Tia Maria dizia assim, a Tia Maria fazia assim...
Há qualquer parte que ficou entre nós.
Obrigado Tia!







Funchal

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