sábado, 19 de março de 2011

Pai

Querido Pai!

Pai, tudo mudou.
Não quero pedir para regressares, porque sei que te vás desiludir, muito.
Nada já é igual, talvez porque foste embora cedo de mais. Talvez porque os puros como tu também morreram.
Tudo o que eu sonhei contigo nada se concretizou.
O pais está cada vez mais desigual.
Lembraste da Revolução dos Cravos?

Explicaste-me o que era a democracia.
Ensinaste-me a viver a liberdade.
Esclareceste-me o significado das eleições e do voto livre. Indicaste-me os direitos , deveres e a importãncia da cidadania.
E o prazer que sentias ao comentar os noticiários a ler os diários e como entusiasmadamente me explicavas o sentido da liberdade de expressão.
Com regozijo educaste-me para viver em liberdade.
Contigo, eu podia sonhar.
Absorvi a tua sabedoria.
E tenho memórias inesquecíveis...
Hoje regredimos, a ambição corrompeu em todos os meios, está enraizado o mesmo sub-sistema do clientelismo que me disseste que havia antes do 25 de Abril de 1974.
Vês com retenho tudo o que aprendi?
Mantenho a mesma personalidade, vivo a lutar sempre, a pensar que vou mudar as atitudes, as pessoas, e nunca perco a esperança, porque te tenho sempre presente como exemplo de educação, força e lealdade.
Às vezes canso-me é de tanto esperar...mas, logo continuo a acreditar num mundo melhor.
Sou como tu, acredito também que as novas gerações vão fazer a mutação.
Também me dizias que o teu futuro dependia da juventude.
Que te sentias jovem, só que tinhas mais experiências.
Hoje ninguém os ouve. Não há trabalho. Não há futuro.
Eu estou incluída nesta realidade.
Estou precisando muito da tua ajuda.
Percebes porque festejo este dia?
Porque estás aqui !
Manteremos este amor incondicional.
Por mim,

Por ti,
Por ontem.
Por hoje.

E... até sempre.

Beijinhos
Pai.

Funchal

Funchal