sábado, 1 de novembro de 2008

1º de Novembro, dia de «Todos os Santos»



As minhas recordações, vão para o saquinho de tecido, bordado com castanhas ,nozes, e uma espiga de trigo.
Era bordado pela minha tia Maria, que nunca quis que perdêssemos a tradição de ir recolher o "Pão-por-Deus".
Eu, e a minha irmã Graça, íamos com sorrisos bater à porta de familiares e amigos, recolher, maçãs, castanhas, nozes, broas, e bolinhos doces, ao qual chamava-mos "bolos de noiva",muito saborosos feitos com erva doce. Juntávamos aos outros miúdos que também andavam pela rua, como nós e íamos em bando, cantando. Hoje tentei me lembrar das cantigas, ou lengalengas, mas não me recordo. Mas, lembro-me de todas as amigas e amigos da época.
Muitos, daqueles que visitamos, já nos deixaram, mas ficou o rasto da bondade, e generosidade, pessoas que marcaram a minha vida, desde tios, avós, amigos, vizinhos...
Pessoas que na verdade, já morreram, e que eu acredito que estão lá em cima a olhar por nós...
Também recordávamos os familiares mortos, mas, essa parte de ir visitar o cemitério, arranjar as sepulturas, colocar flores, era só para os mais velhos. Havia assuntos e conversas só para adultos, que nós não partilhávamos, felizmente.
Éramos crianças.

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Chegou a chuva

Saudar a chuva. Pode ser algo sensacional...
Tenho lido vários poemas de Eugénio de Andrade, e, a "Chuva sobre o rosto", grande parte relacionado com a sua Mãe, sensibiliza-me, pela transparência, pela simplicidade, e também pela minha.
A minha Mãe ,vive, com os 83 anos, vê e ouve a chuva, já passou pelas primaveras, pelos verões e outonos, e, agora, chegamos ao inverno.
É muito importante, na minha vida.
Devo-lhe lealdade, obediência, aprendi com ela a desenvolver faculdades físicas, mentais, devo-lhe a vida. Ensinou-me a alterar e a mudar rumos, e, sobretudo a decidir.
Hoje, os anos passaram, sou eu que lhe dou a mão, sou eu que a mimo, procuro ampará-la, a prestar auxílio. Estou atenta. Sei que a vida é efémero.
Continuo a apreender com Ela, a sentir ternura, pelas rugas, pelos cabelos brancos, pela sua debilidade e fragilidade, cada vez mais inconstestável.
A nossa Mãe, é o nosso mundo.
"Casa na chuva "
A chuva,outra vez a chuva sobre as oliveiras.
Não sei por que voltou esta tarde se minha mãe já se foi embora,
já não vem à varanda para a ver cair,
já não levanta os olhos da costura para perguntar:
Ouves?
Oiço,mãe,é outra vez a chuva,
a chuva sobre o teu rosto.

"Eugénio de Andrade"

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

"Estou saindo da Concha"



Vida, viver, vivendo
Ter vida, existir, é um acontecimento feliz.
A vida, é o tempo percorrido, entre o nascimento e a morte.
A existência, é estar aqui.
Eu, tenho prazer de viver.
Quanto mais eu vivo, mais se aprendo, mais adquiro conhecimento, mais capacidade para compreender.
Tenho com a vivência, a experiência, a consciência de mim própria, as minhas capacidades e as minhas limitações.
Já me permito a procedimentos, outrora nunca imaginados, e tenho mais percepção, mais disponibilidade para apreender, e compreender ou julgar as coisas. Nada se passa por acaso, tudo tem uma explicação.
A ciência ajuda-nos a esclarecer comportamentos, hábitos, atitudes.
Os estímulos diários, não me passam despercebidos, os cheiros, a música, as cores...
Pequenos gestos, pequenos nadas, dão-me satisfação, deixei de ser tão exigentes.
As emoções, tornam-se mais fortes, mais intensas.
Estou vivendo, sem conflitos, agradecida pela Família que tenho, aprendendo a envelhecer.
Descobrindo que o mais importante é estar activa.
Continuarei sonhando. Não quero futurologias.
O que tiver de acontecer, será.
Estou saindo da concha...

Funchal

Funchal