quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

É já o mês da festa, é quase no Natal






Hoje o tempo passa a correr.
Mas, nem sempre foi assim!
Os dias enormes, as horas não passavam, tudo era grande,com outro efeito, que não o real.
Tudo muito calmo, suave, tive a beleza que a vida proporciona na infância. Sonhos realizados, mais aqueles coloridos que mesmo ao despertar do sono continuava com a ilusão!
A imaginação levava-me a fantasiar e a acreditar nos contos e histórias.
E, era assim, que eu aguardava o mês da festa, ou seja o Natal.
O frio, a chuva o vento ajudava-me a perceber a proximidade desta época natalícia, as «Manhãs de Páscoa» vermelhas, os «Sapatinhos»,e as «Estrelícias» a crescerem no jardim, os potes com o trigo em água, o cheiro a especiarias na cozinha, adivinhava que iam ser feitos os bolos e broas de mel.
A azáfama da minha mãe e da (empregada) Ana, a construir a lapinha, onde para além do Menino Jesus e todas as figuras religiosas, não faltavam os patinhos vermelhos sobre o algodão, a caravela dourada ..., vi-os lá em casa na semana passada, resistindo ao tempo e me reavivando as memórias.




























À noite antes de adormecer,e enrolada nos cobertores pedia perdão arrependida das maldades e das faltas cometidas.
Já pouco dias faltavam para colocar o sapato junto ao fogão e não queria ser penalizada.
E a minha mãe não me deixava esquecer que quem se portasse mal não tinha presentes do Menino Jesus.
Sonhava com a casinha das bonecas, com roupas e sapatos novos, mas a certeza é que tinha sempre uma boneca feita de trapos, com cabelos de lã. Quando se desfez a ilusão do Natal descobri que era feita pela minha tia Maria.
Ainda me lembro que fechava os olhos e via ruas cheias de estrelas e muitos pacotes embrulhados em papel de fantasia com fitas de cetim que chegavam à minha cozinha pela chaminé.
Era assim que eu aguardava a noite de Natal, com as minhas esperanças que saiam do meu livro de histórias.
E... finalmente chegava o dia 24 !
Mantinha-se o mesmo ritual na hora de se deitar,com a diferença que era acordada para ir à Missa do Galo, missa da meia-noite.
Foram as minhas primeiras saídas à noite... eu sentia uma alegria misturada com ansiedade porque no regresso a casa já tinha os presentes no sapato.
Depois tomávamos a canja.
A mesa estava enfeitada ao centro com pinhas e azevinho verde com bolinhas vermelhas, cheia de bolos, doces, não posso esquecer os licores com vários sabores, o aniz o vinho Madeira doce e também conhaque e whisky.
Não posso esquecer as sandes feitas com carne de galinha em pão caseiro.
Até fico a salivar...













Claro que eu só podia beber sumo de maracujá.
Os meus pais e irmãos também tinham presentes, e ficavam em convívio pela noite dentro.
Aí eu já caía de sono.
Já tinha recebido as minhas prendas, e às vezes recordava que já tinha visto aquele papel colorido no roupeiro da minha mãe.
A festa continuava por vários dias com a visita dos famíliares e amigos.
A desilusão chegou pelos sete anos, quando eu descobri que o Menino Jesus nunca tinha entrado lá em casa, que a chaminé era um adorno, e era a minha mãe que ia colocar as prendas no sapatinho.
Acabou-se a fantasia do Natal.
Deixei de sonhar com as prendas a deslizar pela chaminé tipo escorrega para o meu sapato, e apercebi-me que os contos de Natal eram fantasias, para suavizar as diferenças que existem no Mundo que o Homem ainda não conseguiu reparar.
Dei por mim a reviver os Natais da minha infância, por ser Dezembro, e por ver também aquele anjinho de cabelos amarelos na casa da minha mãe.

Funchal

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