Quer se chame Maria, ou outro nome qualquer, fica-nos sempre na memória.
A minha, era a Tia Maria.
Na infância, esteve totalmente disponível para mim, até para aquelas brincadeiras maçadoras, na adolescência, compreendia, ajudava e até conseguia me tirar os castigos impostos pelos meus Pais.
Já não está entre nós, mas, é sempre lembrada com muito carinho,tanto por mim, como por todos os meus irmãos.
Todos temos recordações da boa comida,dos petiscos, do ovinho escaldado,dos bolinhos fritos, dos biscoitos!!! , e a gelatina de marmelo?!!! e aquele requeijão com folha de hortelão! Tudo delicioso.
Nunca mais saboreei aqueles paladares, eram únicos.
As histórias contadas à noite, tinham realidade, pela voz , era imitado os sons , a música... Eram as fábulas de La Fontaine, teatralizadas.
A do Beltrãozinho, do Rato da cidade e do rato do campo, da Raposa e das Uvas, e muitas, muitas mesmo, mas, todas elas com efeito de ensinar e alertar para os perigos da sociedade. A História de Portugal contada por dinastias, o que melhor me recordo é a do Sebastianismo, pelo fascínio que era contado o seu desaparecimento misterioso, na Batalha de Álcacer-Quibir, a sua sucessão para o Cardeal Dom Henrique.Os poemas declamados de Fernando Pessoa:
Está escuro,
Está muito escuro aqui.
Sinto-me inútil aqui dentro, fechado.
Mas é aqui que me sinto.
Na escuridão…
Na solidão…"
Os poemas de Miguel Torga:
Sei um ninho.
E o ninho tem um ovo.
E o ovo, redondinho,
Tem lá dentro um passarinho novo.
Mas escusam de me atentar:
Nem o tiro, nem o ensino.
Quero ser um bom menino
E guardar
Este segredo comigo.
E ter depois um amigo
Que faça o pino
E, outros, muitos, muitos que eu ainda sei de cor, este, que eu nem sei o autor, lembro-me sempre que faz trovoada ou chove muito.
Santa Bárbara se vestiu e se calçou, e ao caminho se deitou,
Jesus Cristo a encontrou.
Bárbara onde vais, eu nem vou nem deixo ir ,só ao céu quero subir, para espalhar esta trovoada que no céu anda armada.
Vai Bárbara e espalha por onde não haja pão nem vinho ,nem pintainho a piar , nem porquinhos a roncar nem cordeirinho a berrar, onde esteja uma serpente que tenha quanta filhos que não tenha nada para lhe dar se não água de turbal que é leite de maldição.
Mas, a minha tia Maria, tinha alma de poeta, escrevia poesia, cantava e encantava, foi quem me falou de Luís de Camões, dos Lusíadas da Epopeia , da Divina Comédia de Dante:
-Inferno, Purgatório e Paraíso, de Gil Vicente, e da história do Teatro. Era realmente encantadora, conseguia nos prender a atenção, para o que era realmente importante.
Cresci, e até hoje lembro-me com muito carinho da minha Tia Maria. Era linda! meiga, com voz suave,e um par de olhos castanhos côr de avelã e doce como o mel.
Muitas vezes dou por mim a dizer: - A Tia Maria dizia assim, a Tia Maria fazia assim...
Há qualquer parte que ficou entre nós.
Obrigado Tia!
6 comentários:
Também era minha.
Maria, irmã de Ester.
Tantas vezes também me contou as mesmas histórias. Dos ratinhos. Das raposas. A do D. Sebastião. E tantas outras. Também me fez os mesmos bolinhos e os biscoitos. E o carinho. A defensora dos mais pequenos. Uma tolerância que na altura era ainda estranha. Também me lembro dela. Do seu olhar e gestos meigos. De como me defendia quando aparecia todo sujo de andar a brincar na terra. Senti-me sempre querido. Protegido. E como cantava com a sua voz fina, pela casa. Íamos ao galinheiro buscar os ovos. Deitar couves e ervas aos coelhos. Ver os pintaínhos se estavam bem e deitar milho estreçoado. Era sempre uma aventura. E depois, tinha a irmã - a Tia Ester. Mas desta falo noutra ocasião.
Eu também tenho uma tia com outro nome mas é como a sua tia Maria. Ainda a tenho, com 83 anos e quero que a viva sempre. No meu coração, viverá.
Também tenho uma tia que me fez e faz os bolinhos e biscoitinhos, que me da carinho e muito amor!! Adoro-a e quero que seja imortal.
Realmente, existem Tias fantásticas! Que se tornam marcos importantes na nossa vida. Pessoas especiais que nos fazem acreditar que o mundo é colorido...
Deveria haver um Dia da(o) Tia(o).
Para se prestar as devidas homenagens.
X@u
eu, na qualidade de tio, apoio Martic. Dis dos tios.
E então? Onde anda a SuperTia Concha? (Desculpe a intimidade)
A espalhar a sua magia, com certeza!
Apareça. Se puder, claro.
X@u
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