segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Em construção.

Quando falta uma peça do puzzle, aquela que nem é significante, aquela que fica naquele cantinho inferior, aquela que só é notada pelos bons observadores, mas não está lá, é a frustração de não estar completo.
O grande puzzle está longe de estar acabado.
As peças nem sempre encaixam, é aí que eu vejo a imperfeição, desde a infância é um jogo que me fascina, porque sentia-me em construção.
Sinto saudades do que eu era.
Da vontade de viver, brincar, sonhar,de fazer tudo ao mesmo tempo, de ver os brinquedos pendurados no arco-íris. Do calorzinho na barriga.. que delicia!
Não sei se o erro está comigo ou com as pessoas que não me despertam mais essa sensação.
Sinto saudade dos sorrisos espontâneos, das gargalhadas que eu dava que poderiam se ouvidas pelos vizinhos. Ainda hoje muito característico aliás..
E era sincera, era verdadeira. Hoje já não sou a mesma, quando eu me lembro dela, sinto saudades. Era divertida, desinibida, sem preocupações, era menina, era jovial, era alegre.
E faz-me falta.
Quando lembro dela não parece que ela sou eu.
Fico com a impressão que ela é uma amiga que foi embora.
Mas sou eu, ou o que eu era. Eu sinto saudade de mim mesma.
Cresci aprendendo a construir, montei o puzzle da minha vida, do meu mundo, sem me confundir, até que surgiu o vento, primeiro soprou mansinho, depois transformou-se em tempestade, e foi muito mau, e fez a festa, derrubando, destruindo tudo, e ainda, me levou uma peça...
A vida é um puzzle, desde quando abrimos os olhos pela manhã, desde o momento que juntamos sentimentos, actos, pessoas, memórias, melodias, sabores, sensações.
Foi acumulando as peças como se escrevesse um livro, preenchi páginas que servem de pensamentos, de lembranças, de reflexões. Guardei-as, escondi-as ...
Mas, às vezes chega a altura certa , e vou destapá-las. Organizo-as por tons, por alegrias, por tristezas, por texturas…construo um quadro, disfarçadamente daquilo que me perturba, sentindo a recordação que tende a não desaparecer.
A vida é um puzzle imperfeito, nunca sei o lugar correcto das suas peças.
Eu…
Sou uma simples peça de um puzzle que alguém monta,
uma peça na vida de alguém,
uma peça de um passado…
de um futuro…
de alguém…
Aos poucos vou montando as peças, peço-vos continuem a me ajudar a construir... ,só mais um.

7 comentários:

Manuel disse...

Fico surpreendido cada vez que passo por cá.
Tens o dom de despertar-nos,quase que nos obrigas a ver mais, mais além..., do hoje do amanhã.
Nunca tenhas dúvidas que nós amigos vamos sempre ter uma peça para a "construção" do teu puzzle.
Beijo do sempre Manuel

Rosa Oliveira disse...

Continuas a me fazer sentir saudade.
A me lembrar do tempo do colégio,das aulas,das tuas composições,sempre assim,com muito sentimento e realismo.
Beijinhos

Anónimo disse...

Bom-dia Concha-Conceição!
Cai aqui de pára-quedas.
Surpreendi-me com este blogue, é a vida real.Identifiquei-me com este post.
Com toda a certeza voltarei.
Salvador

MarTIC@ disse...

("A vida é um puzzle, desde quando abrimos os olhos pela manhã, desde o momento que juntamos sentimentos, actos, pessoas, memórias, melodias, sabores, sensações...") - LINDO!
[Anda mesmo inspirada! ;)]

Andamos todos a construir o nosso puzzle. Uns gostam de ajudar nessa construção; outros gostam de esconder ou eliminar peças; outros ainda, não têm noção de como montá-las...
Será que algum dia conseguiremos acabar de montar o puzzle? Ou faltará sempre uma peça? Aquela...

;)*
X@u

Zeca-Diabo disse...

o puzzle não existe, existe uma unidade, uma superfície perfeita e nós passamos a vida com o nosso puzzle a tentar sobrepor nessa perfeição.
Fazemos por vezes tanto esforço para o montar, e não nos apercebemos que na maioria das vezes o puzzle montasse sozinho.

Dalva M. Ferreira disse...

Momentos de reflexão...

Espaço do João disse...

Não sei se existe puzzle, mas que existe uma vida de certezas, incertezas, paixões, ódios, desprezo etc, isso sim! Talvez seja o tal de puzzle ou peça que nos faz ser sempre diferentes .Quantas vezes estamos tão felizes e, zás logo a tal peça desaparece ou não existe?

Funchal

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